quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Redesenhos

O que antes parecia alegria, hoje me parece tão sem sentido... Gostaria de sentir novamente as emoções do Natal, do brinquedo novo, da chegada dos tios no final de semana, sentir a ansiedade da ida para a casa dos avôs, o cheiro do meu avô, o sorriso da minha tia, o aconchego se ser criança.
Com o tempo descobri que o que eu achava ser longe quando andava segurando na mão grande da minha tia Dete não era tão longe assim, descobri que o amor e o cuidado que o meu pai dizia ter por mim, não era tão amor assim, descobri que realmente a vida é dura para quem é mole, descobri que o meu corpo muda, que a minha cabeça muda, que as pessoas mudam e, pior ainda, que elas se vão... Sem despedida, algumas vezes, com despedida em outras e com simples desprezo e desamor em muitas outras. Descobri que o para sempre seria só um risquinho no tempo que se redesenha quando ouço uma música ou sinto um cheiro, descobri que não adianta querer tudo de volta, por que simplesmente, o tempo não volta.
Descobri também que eu me redesenho cada vez que cometo um erro e sofro. Me redesenho para não sofrer de novo.
O amor... Esse pelo qual tanto sonhamos, esse não existe. Não daquela forma linda que a adolescência esperava ao som do Legião Urbana. Existe na forma de querer bem, de compreender, de ajudar, de ouvir. Não na forma de ser meu, de possuir. Para sempre juntos e que a morte os separe. Esse amor que sonhamos e que esperamos que fosse perfeito chega cheio de desilusões, esperas, decepções e no final o que resta... Aprendizado.
As amizades... Ainda não sei bem o que ficam delas. Perecia ser tão imensa e depois se reduz a espaçados telefonemas, alegres, mas cada vez mais distantes. Marcamos de almoçar um dia e esse dia quase nunca chega, seja por causa da falta de tempo, ou por causa da falta de coragem, ou quem sabe até, por causa do transito... E agente sempre dizia: Vamos ser amigas para sempre! Acho que vamos ser mesmo, mas dentro do coração, nas doces lembranças, nos redesenhos...
Chega uma fase, uma das mais tristes, não sei se essa é a palavra, que começamos a lutar por nossos ideais, a hora ser o que eu queria ser quando crescesse e mais uma vez... Desilusões, dores, lutas e se você se esforçar um pouquinho, chegar em casa de madrugada e sair de madrugada vai conseguir ser um terço do que você queria ser quando crescesse.
Nessa fase nos afastamos dos nossos amigos, nos tornamos pessoas sempre exaustas, mas sempre tentando chegar lá. Nessa fase as novas amizades não vingam, por que parece que todas as pessoas já sabem da fumaça que é o para sempre... Também aprendemos que mesmo que tentemos nos aproximar, no fundo é cada um por si.
Começamos a pensar no que temos para redesenhar, no futuro, uma família, a chegada dos filhos, a alegria e a dificuldade de vê-los crescer, também chegam as dores e os medos... Medo de não ser... Medo de não ser mãe, de não ser boa mãe, medo de perder a mãe, medo de não conseguir um pai, medo de nunca ser amada, medo de perder o emprego, medo de envelhecer. Pressa... Pressa de aprender, pressa de encontrar um pai, pressa de vencer, pressa para conseguir descansar.
Os 30 anos são bem mais confusos que os 13 anos. Sentimos que não há mais tempo, enquanto todos dizem que somos ainda muito jovens, vai ver ainda somos mesmo, mas somos jovens com muito medo de não ser mais jovem. Jovens que têm pressa de trocar o destino, de prever o futuro, de construir os próximos 30 anos e ter a felicidade de redesenhar o que foi feito agora, de preferência com os sonhos bem realizados, rodeado de amor e com a certeza de que os medos, as pressas e as dores foram vencidas.

Adriana Lemes

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